sábado, 27 de junho de 2009

"Diário de Bordo": The Doups no Supajam

Como já aqui noticiamos, os The Doups estiveram na passada Terça na final do concurso de banda europeu Supajam, em Londres. Pedimos à banda para nos trazer aqui ao blogue aquilo que sentiram durante toda esta final. O resultado foi uma descrição de três dias em que a banda viveu um sonho e orgulhou-nos a todos através da música que se faz em Portugal. Aqui fica o texto que a banda nos enviou, à qual, desde já, agradecemos.

O que vos pretendo resumir, na verdade, são três dias. Poucas horas de sono, poucas refeições, muitas horas de viagem e muitas dores nas costas. Nem tudo é bom neste mundo da música, pelo menos no inicio quando não há "rodies" e "tour buses", mas bastou pensar que éramos “quatro portugueses absolutamente normais seleccionados para o top5 de uma competição reconhecida e a caminho de Londres pela segunda vez (agora para tocar!!)”, para tudo ser compensado por uma adrenalina e satisfação fora do normal.

Dia 21 – A Ida

A viagem começou com umas longas quatro horas no “inter-cidades” (Setúbal – Faro). Para ser sincero, ao fim de duas horas estava tudo com um ar enfastiado e depressivo mas havia sempre alguém que pronunciava a frase mais repetida da viagem para aumentar a moral, “quatro saloios de Setúbal a caminho de Londres….. PARA TOCAR!!!” e desatava tudo num chinfrim de gargalhadas.

Já em Faro e sempre com a “tralha” às costas, fomos encaminhados para um autocarro urbano que rumaria ao aeroporto. Depois de tratado o check-in tivemos de nos despedir do Steve (manager) que voou mais cedo para Londres tal como no regresso a Portugal. Mais algumas horas de espera e o divertimento passou a ser esperar que o Gustavo adormecesse para o podermos acordar com um ligeiro “carolo” na cabeça enquanto era filmado.

Finalmente o embarque. 21h55, parecia que a pontualidade britânica tinha chegado a Portugal. 2h30 de viagem até terras de sua majestade. No meu caso, esqueci-me do livro dentro da mala de viagem o que levou a um aborrecimento completo. A banda teve de ir separada em dois grupos mas em filas consecutivas do avião: eu e o Gustavo que, incapazes de dormir, fizemos das “tripas coração” para chatear o André e o Cunha que tentavam pacatamente dormir ou ler o "catálogo de compras a bordo”. Chegada a Gatwick, Londres, às 00h30.

Como se não bastassem as já longas horas de viagem, tivemos de rumar a Kensal Green e para isso apanhar um comboio e um táxi. Moral da História: Deitamo-nos às quatro da manhã no mesmo hostel (nojento por sinal) que ocupamos em Abril, altura em que rumamos a Londres parar gravar o mini-álbum.

Dia 22 – O Concerto

O despertar foi planeado para as 10h00 e foi decidido o que cada um queria fazer:

- André e Cunha – ir a Portobello Road comprar uns sapatos e relembrar Abril.

- João e Gustavo – Ir a um tal café português (Delícias de Portugal) tomar um “grandessíssimo” pequeno almoço!

O encontro foi às 12h00, entre os quatro elementos da banda e o Steve (que aproveitou a oportunidade para visitar as duas filhas que vivem bastante perto).

Seguiram-se mais transportes públicos até Picadilly Circus, local onde fica o Pigalle Club. Assim que tomamos consciência do local, começaram os nervosismos: “Vamos tocar na zona nobre de Londres! Medo!”. Depois de (bastante bem) recebidos pelos directores do Supajam, da casa e por todos os elementos das outras bandas, foram-nos explicados os horários que iríamos cumprir:

- 13:00h até às 17:30h – Entrevistas/sound check

- 17:30h - Jantar

- 20:00h – Inicio das actuações (The Doups logo a abrir)

Depois de entrevistados no “backstage” para um blogue britânico, seguimos para um pequeno parque para sermos entrevistados para um DVD a ser promovido pelo Supajam. Perguntas interessantes, inteligentes, divertidas e bastante pertinentes.

A noite começou a sorrir-nos quando me dirigi ao bar e um senhor com os seus 50 anos estabeleceu o seguinte diálogo:

- Are you a doup?

- Yes I am sir.

- Love your tracks, congratulations!

Sendo nós a primeira banda a actuar, fomos os últimos a fazer os soundcheck. Para o realizar chegou o produtor que nos convidou para ir gravar a Londres, o Harvey. Abraços, conversas e paródia, visto não o vermos há alguns meses e as saudades apertarem depois de dez dias de convívio bastante intenso.

Ao jantar, uma tal carne assada com batatas e salada. Requinte. Depois de comentarmos a maneira como estávamos a ser tratados, qual foi a nossa surpresa quando, ao descermos para o patamar do palco, notamos que cada banda tinha a sua mesa com três baldes cheios de cervejas “Corona” fresquinhas.

“Pessoal, temos de estar à altura!!”, e os nervos a apertarem cada vez mais. Posso dizer-vos que no meu caso meia hora antes das 20h não conseguia estar sentado. Não estava bem em lado nenhum até que o Steve disse: “Pessoal, um de cada vez, subam ao palco afinem os instrumentos, desçam e vão para o backstage aquecer! Come on guys!!!”. Consigo descrever o backstage da seguinte maneira:

- Rosa – com as baquetas na mão a aquecer num banco.

- João – Limitei-me a berrar.

- Cunha – Vestia-se e cantava uma tal música dos Killers.

- Gustavo – Vestia-se e andava de um lado para o outro.

Ouvimos a stage manager do Pigalle dizer “Guys, please come downstairs, you’ll be on, in 5 minutes.” CAOS TOTAL. Nunca me senti tão nervoso, nem nunca os tinha visto tão nervosos. A ideia de tocar para uma plateia repleta de imprensa, indústria musical e ilustres convidados era assustadora! Finalmente ouvimos umas vozes de conforto vindas da sala ao lado, eram as outras bandas que num jeito bastante simpático mostravam ali o seu apoio e compaixão: “Good luck boys!”.

O Steve chega. O olhar dele mostrava dois sentimentos, nervosismo e uma tentativa de o esconder: “Mates, Our mission is done! Now it’s time to have fun and show the energy of four twenty years old guys! Good luck and break both legs!”

Subida ao palco. As cabeças loiras ocupavam 80% daquela sala, a varanda do 1º andar tinha o júri e mesmo em frente ao palco estava uma cabeça cor-de-rosa que reconhecemos ser da jornalista que nos entrevistou no parque antes do soundcheck... O olhar dela era de curiosidade.

Click Click Click Click – Dirty Fighters! A cara da jornalista mostra satisfação e até um certo espanto. No meu caso deu-me bastante alento. Lembro-me de olhar para os lados e ver o Gustavo e o Cunha completamente possuídos e envolvidos na música, fiz o mesmo! A música acaba e tomo consciência que era altura de pôr em prática o discurso que durante a última semana pratiquei vezes e vezes sem conta: “Hello London, It’s a dream being here. We are The Doups from Portugal and this is Try Lie Die… Whatever”. Estava na altura de tocar a música que nos levou a Londres. Escolha arriscada tocá-la em segundo, mas tínhamos como objectivo mostrar que a terceira e última música também era boa. Alguns elementos das outras bandas cantarolavam a "Try, Lie, Die...". Afinal de contas todos nós ouvimos as músicas uns dos outros vezes sem conta.

Aplausos, entusiastas para nosso espanto: “Thank you! We’d Like to thank Supajam, Vince Powers, our producer Harvey Birrel, our manager Steve Bootland and all the other bands… They are great! This song… (começa a última música) Is about a Girl… (Far) That left Portugal to come to London… This is a true story… This is Far.”

Lembro-me de saltar, mas de os 7 minutos da música se transformarem em meros segundos. “Thank you! Thank you, hoping to see you soon! We are The Doups.”

Os nervos continuavam à flor da pele! Vi um sorriso enorme estampado na cara do Cunha, de ver o Steve e dizer… “let’s go outside!”

Falamos, acalmamo-nos e tomamos consciência… “Está feito!!! Vamos divertir-nos!”

Entrar na sala de espectáculos outra vez foi bom, pessoas a darem-nos os parabéns encontrar uma amiga (Aivi) que conhecemos em Abril. Altura de abrir as "Coronas” e festejar o facto de estarmos em Londres. As outras bandas tiveram actuações fantásticas e todos nós concordamos que os The Paris Riots seriam justos vencedores se assim fossem escolhidos.

Depois de acabada a ultima actuação, às 22h, foram dados 20 minutos aos júris para a decisão final. Lembro-me de estar a caminho do balcão para pedir uma cerveja e um senhor de estatura média se apresentar como “membro da equipa Supajam” e me dizer: “There’s a riot upstairs… And You’re in the middle of it! Congratulations”. Para mim o reconhecimento e a prova de que aquela noite tinha valido a pena, aconteceu quando a jornalista que no tinha entrevistado 4 horas antes me sussurrou “I’m crossing my fingers ‘joao’, you guys are my favorites.”

Chegou a altura da decisão e são anunciados os vencedores: The Paris Riots e Polly Mackey. Todas as bandas numa cumplicidade sobrenatural, trocaram abraços e palavras sinceras como nunca pensei ser possível, pelo menos das nossas anteriores experiências em concursos portugueses. As outras bandas foram incentivadas a ir ao Benicassim com bilhetes VIP com acesso aos backstages de bandas como Kings Of Leon, Franz Ferdinand, Oasis, The Killers, etc., e relembradas que no ano passado uma das bandas que ficou no Top5 conheceu o Morissey dos The Smiths no Benicassim e que este ano vai abrir os concertos dele!

A festa durou até à meia noite, conhecemos bastantes pessoas e já cansados de um dia tão cheio fomos de táxi para casa do Harvey (produtor) que ficaria a 5 minutos do hostel.

Dia 23 – O Regresso

O acordar foi ao meio dia. Rapidamente arrumamos as coisas e fizemos check-out do hotel.

À uma da tarde demos início a uma das mais longas viagens da nossa vida. 17 horas para regressar a Setúbal.

Hostel -> London Victoria -> Aeroporto Gatwick -> Aeroporto de Faro -> Faro -> Albufeira -> Lisboa -> Setúbal.

Muito obrigado ao blogue “A Nova Música Portuguesa” pelo apoio prestado aos Doups.

Grande abraço a todos os leitores,

João, The Doups

Para mais informações vai a:
http://www.myspace.com/thedoups

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