O que vos pretendo resumir, na verdade, são três dias. Poucas horas de sono, poucas refeições, muitas horas de viagem e muitas dores nas costas. Nem tudo é bom neste mundo da música, pelo menos no inicio quando não há "rodies" e "tour buses", mas bastou pensar que éramos “quatro portugueses absolutamente normais seleccionados para o top5 de uma competição reconhecida e a caminho de Londres pela segunda vez (agora para tocar!!)”, para tudo ser compensado por uma adrenalina e satisfação fora do normal.
Dia 21 – A Ida
A viagem começou com umas longas quatro horas no “inter-cidades” (Setúbal – Faro). Para ser sincero, ao fim de duas horas estava tudo com um ar enfastiado e depressivo mas havia sempre alguém que pronunciava a frase mais repetida da viagem para aumentar a moral, “quatro saloios de Setúbal a caminho de Londres….. PARA TOCAR!!!” e desatava tudo num chinfrim de gargalhadas.
Já em Faro e sempre com a “tralha” às costas, fomos encaminhados para um autocarro urbano que rumaria ao aeroporto. Depois de tratado o check-in tivemos de nos despedir do Steve (manager) que voou mais cedo para Londres tal como no regresso a Portugal. Mais algumas horas de espera e o divertimento passou a ser esperar que o Gustavo adormecesse para o podermos acordar com um ligeiro “carolo” na cabeça enquanto era filmado.
Finalmente o embarque. 21h55, parecia que a pontualidade britânica tinha chegado a Portugal. 2h30 de viagem até terras de sua majestade. No meu caso, esqueci-me do livro dentro da mala de viagem o que levou a um aborrecimento completo. A banda teve de ir separada em dois grupos mas em filas consecutivas do avião: eu e o Gustavo que, incapazes de dormir, fizemos das “tripas coração” para chatear o André e o Cunha que tentavam pacatamente dormir ou ler o "catálogo de compras a bordo”. Chegada a Gatwick, Londres, às 00h30.
Como se não bastassem as já longas horas de viagem, tivemos de rumar a Kensal Green e para isso apanhar um comboio e um táxi. Moral da História: Deitamo-nos às quatro da manhã no mesmo hostel (nojento por sinal) que ocupamos em Abril, altura em que rumamos a Londres parar gravar o mini-álbum.
Dia 22 – O Concerto
O despertar foi planeado para as 10h00 e foi decidido o que cada um queria fazer:
- João e Gustavo – Ir a um tal café português (Delícias de Portugal) tomar um “grandessíssimo” pequeno almoço!
O encontro foi às 12h00, entre os quatro elementos da banda e o Steve (que aproveitou a oportunidade para visitar as duas filhas que vivem bastante perto).
- 17:30h - Jantar
- 20:00h – Inicio das actuações (The Doups logo a abrir)
Depois de entrevistados no “backstage” para um blogue britânico, seguimos para um pequeno parque para sermos entrevistados para um DVD a ser promovido pelo Supajam. Perguntas interessantes, inteligentes, divertidas e bastante pertinentes.
A noite começou a sorrir-nos quando me dirigi ao bar e um senhor com os seus 50 anos estabeleceu o seguinte diálogo:
- Are you a doup?- Yes I am sir.
- Love your tracks, congratulations!
Sendo nós a primeira banda a actuar, fomos os últimos a fazer os soundcheck. Para o realizar chegou o produtor que nos convidou para ir gravar a Londres, o Harvey. Abraços, conversas e paródia, visto não o vermos há alguns meses e as saudades apertarem depois de dez dias de convívio bastante intenso.
Ao jantar, uma tal carne assada com batatas e salada. Requinte. Depois de comentarmos a maneira como estávamos a ser tratados, qual foi a nossa surpresa quando, ao descermos para o patamar do palco, notamos que cada banda tinha a sua mesa com três baldes cheios de cervejas “Corona” fresquinhas.
- Rosa – com as baquetas na mão a aquecer num banco.
- João – Limitei-me a berrar.
- Cunha – Vestia-se e cantava uma tal música dos Killers.
- Gustavo – Vestia-se e andava de um lado para o outro.
Subida ao palco. As cabeças loiras ocupavam 80% daquela sala, a varanda do 1º andar tinha o júri e mesmo em frente ao palco estava uma cabeça cor-de-rosa que reconhecemos ser da jornalista que nos entrevistou no parque antes do soundcheck... O olhar dela era de curiosidade.
Click Click Click Click – Dirty Fighters! A cara da jornalista mostra satisfação e até um certo espanto. No meu caso deu-me bastante alento. Lembro-me de olhar para os lados e ver o Gustavo e o Cunha completamente possuídos e envolvidos na música, fiz o mesmo! A música acaba e tomo consciência que era altura de pôr em prática o discurso que durante a última semana pratiquei vezes e vezes sem conta: “Hello London, It’s a dream being here. We are The Doups from Portugal and this is Try Lie Die… Whatever”. Estava na altura de tocar a música que nos levou a Londres. Escolha arriscada tocá-la em segundo, mas tínhamos como objectivo mostrar que a terceira e última música também era boa. Alguns elementos das outras bandas cantarolavam a "Try, Lie, Die...". Afinal de contas todos nós ouvimos as músicas uns dos outros vezes sem conta.
Aplausos, entusiastas para nosso espanto: “Thank you! We’d Like to thank Supajam, Vince Powers, our producer Harvey Birrel, our manager Steve Bootland and all the other bands… They are great! This song… (começa a última música) Is about a Girl… (Far) That left Portugal to come to London… This is a true story… This is Far.”
Lembro-me de saltar, mas de os 7 minutos da música se transformarem em meros segundos. “Thank you! Thank you, hoping to see you soon! We are The Doups.”
Os nervos continuavam à flor da pele! Vi um sorriso enorme estampado na cara do Cunha, de ver o Steve e dizer… “let’s go outside!”
Falamos, acalmamo-nos e tomamos consciência… “Está feito!!! Vamos divertir-nos!”
Entrar na sala de espectáculos outra vez foi bom, pessoas a darem-nos os parabéns encontrar uma amiga (Aivi) que conhecemos em Abril. Altura de abrir as "Coronas” e festejar o facto de estarmos em Londres. As outras bandas tiveram actuações fantásticas e todos nós concordamos que os The Paris Riots seriam justos vencedores se assim fossem escolhidos.
Depois de acabada a ultima actuação, às 22h, foram dados 20 minutos aos júris para a decisão final. Lembro-me de estar a caminho do balcão para pedir uma cerveja e um senhor de estatura média se apresentar como “membro da equipa Supajam” e me dizer: “There’s a riot upstairs… And You’re in the middle of it! Congratulations”. Para mim o reconhecimento e a prova de que aquela noite tinha valido a pena, aconteceu quando a jornalista que no tinha entrevistado 4 horas antes me sussurrou “I’m crossing my fingers ‘joao’, you guys are my favorites.”
Chegou a altura da decisão e são anunciados os vencedores: The Paris Riots e Polly Mackey. Todas as bandas numa cumplicidade sobrenatural, trocaram abraços e palavras sinceras como nunca pensei ser possível, pelo menos das nossas anteriores experiências em concursos portugueses. As outras bandas foram incentivadas a ir ao Benicassim com bilhetes VIP com acesso aos backstages de bandas como Kings Of Leon, Franz Ferdinand, Oasis, The Killers, etc., e relembradas que no ano passado uma das bandas que ficou no Top5 conheceu o Morissey dos The Smiths no Benicassim e que este ano vai abrir os concertos dele!
A festa durou até à meia noite, conhecemos bastantes pessoas e já cansados de um dia tão cheio fomos de táxi para casa do Harvey (produtor) que ficaria a 5 minutos do hostel.
Dia 23 – O Regresso
O acordar foi ao meio dia. Rapidamente arrumamos as coisas e fizemos check-out do hotel.
À uma da tarde demos início a uma das mais longas viagens da nossa vida. 17 horas para regressar a Setúbal.
Hostel -> London Victoria -> Aeroporto Gatwick -> Aeroporto de Faro -> Faro -> Albufeira -> Lisboa -> Setúbal.
Muito obrigado ao blogue “A Nova Música Portuguesa” pelo apoio prestado aos Doups.
Grande abraço a todos os leitores,
João, The Doups
Para mais informações vai a:
http://www.myspace.com/thedoups
Sem comentários:
Enviar um comentário