quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Jorge Nunes lança trabalho a solo

Nascido do e para o rock, com experiências vividas na bateria de projectos como New Connection e Coty Cream, há já algum tempo que Jorge Nunes se tem deixado levar para outros terreiros sonoros. São eirados do experimentalismo e do improviso - de estúdio e ao vivo - onde faz uso de todo e qualquer cangalho para a criação dos mais diversos ambientes electroacústicos. Figura aglutinadora do colectivo A Naked Lunch e face da dupla criativa Mouraria Beat Ensemble, Jorge Nunes é ainda um dos pólos dinamizadores do projecto de criação artística Cápsula. Mas hoje, o tema é ele mesmo, Jorge Nunes e a sua estreia a solo. Ele só e a sua oficina, uma tal de Garagem Hermética.

No meio de toda esta efervescência criativa, Jorge Nunes abre o ano de 2009 com uma bomba em estilo "Comprimido"; qual complexo químico ou arma de arremesso a lembrar o Dr. Robert Moog - esteja ele onde estiver desejando que esteja em paz - que continua a valer a pena ter criado nos idos 60 aquele extraordinário aparelho de som sintetizado. O Moog. É ele que serve de primeiro veículo transmissor ao universo que aqui vem comprimido. Ele e mais alguns pedaços arrecadados ao espaço e ao tempo por um moderno iPod de toque.

Já descomprimido, começa-se a esperada viagem por ambientes meio alucinados, soturnos, os mesmo que servem de itinerário a boa parte da história a solo de Jorge Nunes. São os típicos momentos de alucinação. Associe-se Kerouac, Burroughs e restante companhia do alegre desvairo. Outros dirão bizarro. Com maior ou menor complexidade, aplicando com originalidade os princípios da escrita automática de Kerouac à sua música, em "Comprimido", Jorge Nunes privilegia não só o som como o não-som, ou melhor, o silêncio, a forma como este perspectiva a paisagem e deixa espaço para distinguir o que nos é dado a imaginar: mensagem; uma complexidade; a perplexidade que se mantém.

Banda sonora de um ambiente ficcional, "Comprimido" obriga a relevar, oferece-nos o tempo para imaginar os estranhos cenários que coexistem, perceber as personagens - pelo menos tentar, participar e perigosamente ficar. Porque o tempo não passa. Porque os relógios perderam os ponteiros. Estranho e admirável espaço de meditação este, de deambulação pela mente de mundos e coisas quiméricas; muitas coisas; todas.

São seis faixas de um filme só, que se completam e sobrepõem num eterno e contínuo retorno. Um ciclo vicioso de onde não se sai nunca, a menos que a fome ceda. No fim, já perto da luz que nos há-de fulminar, fica a praia de Aljezur, o tranquilizante para espíritos em sobressalto. Para espíritos por saciar. Até que a fome ceda.

Para saberes mais e fazeres o download de "Comprimido" vai a:
http://www.archive.org/details/xs45JorgeNunes-Comprimido
http://www.myspace.com/xsrecordsportuguesenetlabel

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